segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Bernardino, avança, com toda a confiança!



Camarada Bernardino, ouvi dizer que estás com dificuldades em pagar as dívidas da tua Câmara e que por isso vais levar a cabo uma auditoria. Peço-te encarecidamente que não o faças. Se achas demasiado complicado respeitar os compromissos assumidos, segue os conselhos que nos últimos anos tantas vezes deste ao Governo: não pagues! Se os conselhos só são válidos para os outros e não para ti, paga, mas não faças a auditoria. As auditorias verificam contas, despesas e receitas. São uma actividade fascista, incompatível com o lema “as pessoas não são números!” de que tu tanto gostas. Além disso, a palavra “Auditores” faz lembrar um conjunto de endinheirados doutores sentados ao volante de potentes Audis. Não vás por aí. Se precisas de ajuda nas tuas análises pede a colaboração a Daciaperários, Tataperários ou, na pior das hipóteses, Fiatperários. Nunca te esqueças, camarada: apesar de seres Presidente, a luta continua!

Um abraço fraterno do Aníbal.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A reforma do Estado – 2ª parte


“Pescada de rabo na boca” de Pedro Vieira


Mantendo o rigor que estas reflexões exigem, considero adequado referir que todo este duríssimo empreendimento de reformar o Estado tem seguido o método científico característico da III República: a pescadinha. Munidos do talher de peixe, dissequemos a dita cuja. Cuidado que tem espinhas!

O PCP e o BE acusam o Bloco Central de utilizar o Estado para empregar boys e para promover a promiscuidade entre dinheiros públicos e privados. Todos sabemos que estes partidos da verdadeira esquerda se colocaram historicamente na vanguarda do proletariado e que contam nas suas fileiras com uma grande parte dos intelectuais portugueses. Além disso, passam a vida a tentar morder os calcanhares dos governos e para morder são precisos dentes. Representam por isso a cabeça do animal escamoso, o ponto onde a força das mandíbulas se alia à força da massa cinzenta. E qual é a solução dos inteligentes cabeçudos para resolver este saque descarado ao Orçamento da lusa pátria? O desenvolvimento de um Estado maior, mais poderoso, mais interventivo e mais fiscalizador.

O PS e o PSD aproveitam essa sugestão, criam uns organismos adicionais para intervir e fiscalizar e, naturalmente, arranjam umas pessoas para lá trabalharem. No início pensam em recrutar opositores para esses cargos mas entretanto o despertador toca, acordam, e resolvem recrutar apoiantes que conheçam. É uma característica deveras estranha esta de gostarmos de nos rodear de pessoas de confiança e não de inimigos de estimação. É mesmo surpreendente, vá-se lá perceber a cabeça do ser humano! Agora essas pessoas entretanto recrutadas já podem aproveitar para fazer uns negócios com os amigos e misturar o dinheiro público com o privado. Estes dois partidos do nosso centro político constituem o rabo do nosso peixe e, como é natural num rabo, estão sempre desejosos de se sentarem. Se é num conselho de administração de uma grande empresa pública ou numa mesa de reuniões de um grande banco privado, pouca diferença faz.

Com a criação destes novos organismos, o PCP e o BE já têm novas críticas para fazer aos mais recentes boys e aos negócios por eles desenvolvidos. Estão reunidas as condições para exigirem mais Estado para resolver o problema.
E o CDS, pergunta o atento leitor. O CDS varia, meu caro amigo. Se está na oposição, coloca-se à cabeça do peixe e morde os tachistas com vigor. Se está no Governo, coloca-se à cauda e senta-se nas confortáveis cadeiras do anafado Estado.

“Quem guardará os guardas?”, questionava com angústia Juvenal. “Mais guardas”, responde a nossa III República. “E assim sucessivamente”, completaria o saudoso João César Monteiro, antes de mandar meio mundo para o caralho.
Fica uma sugestão para matar a pescadinha: que a Troika se transforme em partido político e que em disputa com os nossos concorra às próximas eleições legislativas. Resolve-se o problema democrático e quando se contarem as cruzinhas talvez se descubra que não são essas três organizações estrangeiras que o povo português anseia desesperadamente enxotar daqui para fora.   

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Ben Sira


“Toda a gente subestima a inteligência política de António José Seguro. Nunca percebi porquê. O homem vê mais longe com os olhos fechados do que os seus críticos com eles abertos. Bastou ouvi-lo na entrevista à TVI: o PS não vai exigir eleições antecipadas se o governo pedir um “programa cautelar”? Claro que não. Para começar, e até chegarmos a ele, há cortes para fazer – 3900 milhões – e um défice de 4% para respeitar em 2014. Depois, quando a “troika” partir e a Europa arranjar essa muleta para irmos aos mercados, serão mais 1700 milhões de cortes para um défice de 2,5% em 2015.

Por outras palavras: a legislatura presente será feita sob o signo da tosquia. Neste horripilante cenário, pedir eleições antecipadas é pedir para ser antecipadamente enfiado no espeto.
Seguro não tem vocação de mártir. Até 2015, a estratégia de Seguro é simples: deixar que o trabalho sujo seja feito por este governo. Depois, e só depois, o PS estará pronto para “assumir as suas responsabilidades.” Se isto revela falta de inteligência, eu gostaria de conhecer os inteligentes.”

João Pereira Coutinho – Correio da Manhã


João Pereira Coutinho defende que António José Seguro, ao adiar os seus desejos governativos para 2015, revela mais inteligência do que os seus críticos. Por questões religiosas, quando ouço a palavra “inteligência” sinto um dever moral de participar no debate. O Antigo Testamento transmite-nos que “quando um homem inteligente ouve uma palavra sábia, aprecia-a e acrescenta-lhe algo de seu”. Apesar de estar com pouco tempo não devo fugir a esta obrigação. Aqui vai:

Seguro não só tem mais inteligência do que os seus críticos, como tem também mais inteligência do que aquela que João Pereira Coutinho lhe atribui. As promessas actuais do líder socialista implicam o fim da tosquia e a reposição de algum do pêlo entretanto cortado ao rebanho. A primeira premissa não acontecerá em 2015 e a segunda não acontecerá antes de Seguro estar tão gagá como Mário Soares. Por saber disso, o homem do “qual é a pressa?” arranjará maneira de não ter de assumir nunca o lugar de pastor.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A reforma do Estado – 1ª parte



O Governo mais liberal de sempre vai dar à luz um novo organismo público para regular o mercado dos combustíveis. Nada a obstar. É evidente que nenhum dos 13 740* organismos já existentes na órbita do Orçamento de Estado poderia levar a cabo essa tarefa, dada a sua transcendente especificidade. Comparar o preço da gasolina da Galp com o preço da gasolina da Repsol não é igual a comparar o preço do atum do Pingo Doce com o preço do atum do Continente. Toda a gente que já observou os painéis dos preços dos combustíveis nas auto-estradas sabe que apenas profissionais altamente qualificados e dotados de olhos de águia conseguem discernir as diferenças que, evidentemente, devem existir.         

Além do mais, em prol do equilíbrio do mundo, são necessários decisores políticos originais na Europa que sirvam de contraponto aos outros decisores políticos igualmente originais que existem nos outros continentes. Se um dos Governos mais socialistas do mundo, o Cubano, tem vindo a despedir milhares de funcionários públicos nos últimos anos, é de todo necessário, para o yin-yang do Planeta, que um dos Governos mais liberais do mundo, o Português, se dedique a criar novos organismos públicos para acrescentar aos já existentes.

Os fenómenos aparentemente paradoxais devem existir em todas as áreas do conhecimento. Dado que as ciências mais exactas, como a matemática, e as menos exactas, como a linguística, têm direito a tal prerrogativa, seria altamente discriminatório que as totalmente inexactas, como a política, ficassem de fora. Se “tudo junto” se escreve separado e “separado” se escreve tudo junto, por que razão a reforma liberal do Estado não pode significar um aumento do mesmo? Também reformei o meu T2 no ano passado e, com a ajuda de placas de pladur, agora tenho um T3. E a reforma foi levada a cabo num contexto de total liberalismo uma vez que utilizei essa divisão adicional para guardar livros do Adam Smith. Qual é então o problema de usar um pouco de pladur no Estado, obtendo desta forma mais umas quantas divisões? Se forem posteriormente ocupadas por discípulos de Milton Friedman, não existe qualquer contradição. Más línguas, é o que é…

(to be continued)

* parece um número inventado, não? Amigos, o Aníbal não inventa, este número é real.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Querido diário


Quando alguma obra pública nasce.
Nasce selvagem.
Não é
de ninguém



Querido diário,

Resolvi construir uma casa para a minha família. Sabia que era um investimento grande mas a vida é feita destas decisões ambiciosas e devemos deixar património aos nossos herdeiros. Vem na Bíblia, ou, se não vem, devia vir. Entreguei os projectos a um empreiteiro e ele deu-me um orçamento de 200 mil euros. Não percebia muito de construção mas fiquei sossegado com o que ouvi: “é chave na mão, Sr. Aníbal, não precisa de se preocupar com nada.” Acatei o conselho; não me preocupei com nada. A vida é curta e tenho outras coisas em que pensar. Algum tempo depois apareceu-me à porta a pedir 150 mil euros adicionais para concluir a obra. Pelo que me disse tinha aparecido água no subsolo e isso não estava previsto nos projectos. Aceitei, claro! Coitado do homem, não podia ficar com o prejuízo. Não devemos prejudicar os outros para salvaguardar o nosso dinheiro. Vem na Bíblia, ou, se não vem, devia vir.

Passaram uns meses, a casa ficou pronta, e mudei-me. Achei estranho que uma parte do soalho estivesse levantado e uma das paredes completamente torta mas o construtor disse-me que era como estava no projecto: “agora usa-se assim, Sr. Aníbal, é uma nova tendência. Nunca foi à Casa da Música?” Não disse mais nada. Apesar dos meses que durou a obra, continuava a não perceber nada de construção e, na verdade, nunca tinha olhado com atenção para os projectos nem sequer acompanhado a obra. É preciso confiar nos profissionais e deixá-los fazer o seu trabalho. Vem na Bíblia, ou, se não vem, devia vir. O problema foram as semanas seguintes! Chão totalmente levantado, infiltrações no tecto, paredes rachadas, portas mais descaídas do que as mamas da Ti Micas da mercearia, soleiras partidas. Achei suspeito e lembrei-me que tinha contratado um fiscal no início da obra. Era obrigatório por lei, tinha-lhe pago, mas nunca mais o tinha visto. Resolvi procurá-lo para saber o que pensava do assunto. E foi aí que apanhei um choque! “Oh Sr. Aníbal”, disse-me o homem, “estava a ver que nunca mais me dizia nada. Ando há meses a tentar falar consigo, já lhe enviei cartas, mails, e nada! O senhor foi burlado indecentemente, a obra não foi feita de acordo com os projectos. Os materiais que colocaram são de 4ª categoria e foi tudo feito à pressa e sem engenho. Digo-lhe do coração, nas favelas do Rio de Janeiro há construções melhores, até no ferro e no cimento o roubaram.” Fiquei sem palavras durante uns minutos. Quando regressei a mim, perguntei-lhe acerca da água no subsolo e do custo adicional. “Mas qual água?!”, respondeu-me ele, “aquele terreno é seco como um pão de 3 dias, já lhe disse que foi enganado. Eu avisei-o disso tudo nos relatórios que lhe enviei. Nunca me respondeu, nunca atendeu os meus telefonemas. Porquê, Sr. Aníbal? Porquê?! A casa era para si, não estava interessado numa coisa bem feita? O senhor é rico? Não tem respeito pelo seu dinheiro? Não lhe custa a ganhar?”  

Querido diário, é altura de fazer uma confissão. Isto que acabo de contar não aconteceu comigo, aconteceu no Hospital Pediátrico de Coimbra. E os valores em causa foram bastante maiores, na ordem das dezenas de milhões de euros. Com a saúde não se brinca e não se olha a gastos. Vem na Bíblia, ou, se não vem, devia vir. Sabes, na verdade eu também construí uma casa. Para mim e com o meu dinheiro. Mas andei sempre em cima do empreiteiro e do fiscal e ficou tudo mais ou menos direito. Claro, gastei 4 ou 5% a mais em extras e fiquei com 2 ou 3 rachadelas nas paredes, uma situação normal  que já foi resolvida. E se me perguntares quem são os culpados em Coimbra, querido diário, acho que não te sei responder. O fiscal foi honesto mas ninguém lhe ligou; o empreiteiro foi aldrabão e conseguiu aumentar os lucros, uma atitude bastante comum na espécie humana; e o dono da obra, o Estado, não tem rosto. É verdade que é representado por homens mas estes não se sentem donos do que representam. Por isso não se aplicam a 100% e desleixam-se um bocado no controlo. E no meio dos Despachos, das Portarias e dos Decretos, às vezes perde-se o fio à meada. Achas que são culpados? Porquê? Eu não acho, são humanos e os humanos são assim. Movem-se por incentivos e caem facilmente na preguiça, esse maravilhoso pecado mortal. E cuidam sempre melhor dos seus filhos do que dos filhos dos outros. No fundo, a culpa é da natureza humana e nesse caso podemos encontrar a explicação no Mendel, ou no Freud, ou no Darwin, ou em Deus, ou em todos eles em conjunto. Achas que a natureza humana vai mudar, querido diário? Pois, eu acho que não. Talvez seja mais fácil e mais proveitoso tentar mudar o sistema. Vem na Bíblia, ou, se não vem, devia vir.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Hegel e os Negócios Estrangeiros






Tese – a subserviência de Machete perante Angola
Antítese – a altivez de Portas em território chinês
Síntese desejada – um futuro comportamento normal de um ministro perante, digamos, o Yemen