quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Yator Gasparakis



O mundo divide-se entre aqueles que dividem as pessoas em grupos e aqueles que, como eu, não o fazem. Já o mundo dos homens casados pode ser dividido em três espécies distintas: os fiéis, os infiéis, e os ps´s. O “homem ps” é o homem da terceira via; é aquele que, entre o caminho da fidelidade ao cônjuge e o caminho da infidelidade ao cônjuge, descobre um percurso alternativo que ninguém, com excepção do próprio, consegue vislumbrar. Para os homens desta espécie há uma grande variedade de situações que, não podendo ser ostentadas como pináculos da rectidão conjugal, também não devem ser consideradas como exemplos de libertinagem. O “ps” é aquele marido que dá umas voltas com outras mulheres, nunca considerando essas voltas como verdadeiras traições à sua. Os motivos invocados para justificar esse enquadramento na terceira via são diversos e podem estar relacionado com a influência do álcool no desenrolar da volta, com o facto da volta ter sido dada num fuso horário diferente do que vigora no leito conjugal, ou com a ocorrência, durante a volta, de coito interrompido provocado por um súbito ataque de remorsos. Podemos dizer que o “homem ps” não é fiel nem infiel, muito antes pelo contrário.

O nome com que baptizei esta espécie representa a homenagem que julgo devida ao Partido Socialista. Depois de termos assistido à postura do bom aluno representada por Vítor Gaspar e à postura do aluno rebelde protagonizada por Yanis Varoufakis, é de saudar a via europeia alternativa defendida por António Costa. Fazendo lembrar a velha táctica futebolística de Jaime Pacheco - jogar ao ataque, fechadinhos lá atrás - , o Ministro das Finanças que o líder do PS escolher terá de cumprir as regras europeias e bater o pé às regras europeias em simultâneo. Através de um delicado exercício de contorcionismo destinado a baralhar as instituições, tanto entrará nos salões de Bruxelas de t-shirt por fora das calças, fazendo piretes com uma mão enquanto assina os acordos com a outra, como, envergando gravata de seda e botões de punho em camisa branca, distribuirá vénias pelos colegas enquanto enfia os acordos assinados na trituradora de papel. O equilibrismo exigido por esta terceira via solicitará ao governante uma permanente atenção aos pormenores: poderá de andar de moto, à Varoufakis, mas esta terá de ser conduzida por um motorista, à Vítor Gaspar; se optar pela viatura do Ministério, assume o volante e envia o motorista para a requalificação. E deve deixar-se fotografar a almoçar com a mulher numa varanda? Sim, não há problema, desde que esta tenha vista sobre o Reichstag e a bebida seja weißbier. A tarefa do Dr. Yator Gasparakis não se avizinha nada fácil, mas o nobre princípio da coerência merece o esforço.