quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Eu, Centeno, o cativador



Saio da cama onde roncara
Cativo as unhas e os pêlos da cara
Tomo um bom banho, ponho a gravata
Logo pareço um tecnocrata
Cativo a baguete e fatias de queijo
Saio de casa lançando um beijo
Rua compacta, fila a parar
Cativo à esquerda pra me despachar
No Ministério os gastos rejeito
E sem cerimónias, cativo a direito
Já no almoço, perante os mordomos
Peço laranja, cativada em gomos
Quanto ao café, cativo-o com leite
Pois fica mais fraco e é um deleite
E respeito o médico, que me deu o mote
Cativo no açúcar, só meio pacote
De volta ao trabalho, défice a escalar
Não há problema, é só cativar
Saio mais cedo e sem desmazelo
Vou ao barbeiro, cativo o cabelo
Chego a casa, patilhas imberbes
Cativo a relva e mais duas sebes
Na hora da ceia cativo o pão
Mais meia pastilha para o coração
Dentes lavados, cozinha arrumada
Vou para a cama com a minha amada
Ensaio um avanço, demonstro paixão
Cativa-me as vazas, diz-me que não


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