terça-feira, 1 de outubro de 2019

Arquitectura bota e bira (ou Uma casa portuguesa, com certeza)



Ergueu-se a humilde casa entre dois FMI´s
O suado pé-de-meia só chegou para escavar
Os biscates lá na aldeia renderam pra betonar
E os empréstimos da família, embora por um triz
Acabaram por bastar
Para pôr os pontos nos is

Arquitectos? Prò galheiro
Noé também não lhes deu ganho
E construiu refúgio tamanho
Que abrigou o mundo inteiro

Os materiais são variados
Pois a moda ia mudando
É o que acontece quando
Se fazem obras aos bocados

Azulejos cor azul, da secção segunda escolha
Só havia nove caixas numa loja da fronteira
Foi preciso misturar, com um jeitinho do trolha
Uns mosaicos verde-alface de qualidade terceira  

E o trabalho dos vizinhos, mão-de-obra emprestadada
Em sábados infinitos, com cervejas por xaropes
Ajudou a conservar as contas da empreitada
Afastadas do gadanho do Doutor Ernâni Lopes

Casa fria e bafienta – por respeito à lusa traça
Jamais foi acusada de ter provocado mortes
E dando como exacto o filósofo da bigodaça
Deve ter por certo o dom de nos transformar em fortes

(Ou como diz o povo e eu recordo: se não me mata, então engordo)


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