Uma investigadora portuguesa que está a fazer o doutoramento na Alemanha descobriu, em conjunto com os seus colegas do Instituto de Ornitologia, que os melros da cidade evoluíram em relação aos melros do campo, tendo-se tornado mais tímidos do que os seus “parentes” rurais. Esta interessante notícia do Público mostra-nos várias coisas, sendo a mais curiosa a existência de um Instituto de Ornitologia na Alemanha. Era muito útil a existência de uma instituição semelhante em Portugal, devendo a mesma estar aberta 24 horas. Seria um excelente local para largar o irmão choninhas que os pais colocam sob a alçada do mais velho para efeitos de saídas nocturnas. Com um assertivo “Rui Pedro, fica aí no birdwatching enquanto eu faço beerwatching”, todos ficariam mais felizes.
Isto leva-nos a uma segunda observação relacionada com a notícia. Darwin não era selectivo e por isso o irmão choninhas é, de acordo com a investigadora e à semelhança do melro da cidade, uma evolução em relação ao irmão pintas. A sua timidez resultou de um processo de aperfeiçoamento da espécie e a infelicidade que possa sentir em relação a isso deve ser lida à luz do pensamento de Freud exposto tão claramente no texto “A Civilização e os seus Descontentamentos”. No fundo, o choninhas deve relativizar a sua “chonice”, pois esta é um claro sinal de civilidade e de desenvolvimento. Eu, como choninhas que sou, fico feliz com este estudo.
A terceira observação que gostaria de fazer é que este estudo, apesar de me ter deixado feliz, é um desperdício de dinheiro. Quem já teve a oportunidade de participar num bailarico de aldeia durante o mês de Agosto, compreendeu, sem necessidade de doutoramento, que os rituais de acasalamento dos meios rurais não se compadecem com a timidez de melancólicos urbanos. Ou se convida a Maria para dançar e se lhe dá um bom amasso ou então mais vale fugir para a cidade e desabafar as neuroses em blogues.
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