quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

The ring



A última temporada do Breaking Bad está vista. Muito bom, tudo muito bom. Com tempo e talento poderia escrever um ensaio sobre os poderosos combustíveis que são o ressentimento e a frustração ou sobre o estoicismo de Gustavo Fring ou sobre a fronteira México-USA como o grande fétiche da produção cultural contemporânea ou sobre as nuances de raiz religiosa que distinguem o “desire to provide for the family” de Walter White do “la familia es todo” de Hector Salamanca ou sobre dezenas de outros temas que foram mexendo com os meus neurónios desde o primeiro episódio. No entanto, se tivesse mesmo talento (a verdade é que até tenho tempo), abordaria a brilhante lição dada pela equipa técnica de Breaking Bad à equipa técnica do Senhor dos Anéis através da discreta omnipresença da aliança de casamento de Walter White. É assombroso como um objecto de 3,8 cm2* se impõe com aquela força no ecrã de televisão durante toda a série.




* área calculada de acordo com a fórmula [A = Pi*r2] e considerando que a aliança de Walter White tem 2,2 cm de diâmetro (a minha tem apenas 2 cm mas o WW tem os dedos grossos)



Em relação à magna questão levantada aqui pela Carla Hilário Quevedo, se esta é uma série sobre um homem que se torna mau ou uma série sobre um homem que apenas acaba por assumir a sua verdadeira natureza, vou ler o Hobbes (penso que era adepto da teoria da maldade intrínseca do ser humano; não tenho a certeza uma vez que abordei o Leviathan através de uns apontamentos que me foram emprestados por um gajo que tinha uma letra pouco perceptível), o Rousseau (propagou a visão optimista da natureza humana, não há dúvidas; a treta do bom selvagem e tal) e aquela espectacular máxima do “homem e a sua circunstância” do Ortega Y Gasset, e talvez volte ao assunto mais tarde. Mas aproveito para antecipar que não afasto uma hipótese alternativa: WW não era um homem mau no 1º episódio e WW não é um homem mau no último episódio. O único momento em que se entregou sem reservas à verdadeira maldade, aquela que é praticada de forma gratuita, sem motivo e sem necessidade, foi com Mike Ehrmantraut, e não me parece que um ser humano mereça o inferno por ter ido uma vez beber um copo com o diabo. Entretanto, se tudo correr bem, tentarei rever até ao fim do ano todos os 62 episódios da série. Mas apenas umas 2 ou 3 vezes, no máximo...

  
PS – numa óptica de promoção do empreendedorismo aproveito para sugerir ao Shéu Han que abra um Los Pollos Hermanos na zona de Benfica. Não sei porquê mas lembrei-me.



Sem comentários:

Enviar um comentário