"Mirandasday"

Em homenagem a James Joyce e ao seu Ulisses, ontem foi "Bloomsday" na Irlanda. Imitando os passos de Leopold Bloom durante o dia 16 de Junho de 1904, dedicados leitores percorrem anualmente alguns dos locais da cidade de Dublin por onde Joyce encaminhou o seu herói.

No nosso país, em homenagem à mais importante obra escrita nacional – a Constituição da República Portuguesa –, deveria ser instituído um evento semelhante. Teria que se realizar no dia 2 de Abril (data em que foi aprovada) e poderia chamar-se "Mirandasday" (em homenagem a Jorge Miranda, o mais conhecido "Pai da Constituição").

Nesse dia, todos os admiradores do texto poderiam recriar um percurso coerente com o espírito constitucional, com passagens pela escola pública gratuita, pelo centro de saúde gratuito, pelo serviço público de televisão gratuito, por um Centro Distrital da Segurança Social, pelo estaleiro de uma grande obra lançada no âmbito das "Grandes Opções do Plano" e por uma Câmara Municipal, símbolo do poder local democrático e descentralizador do investimento público. O dia terminaria com um grande desfile na Avenida da Liberdade, onde todos poderiam gritar contra a insuportável carga fiscal.

Claro que o final de dia de Leopold Bloom, passado num bordel, parece ter sido mais interessante mas não devemos menosprezar a beleza da Avenida da Liberdade.