quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A reforma do Estado – 2ª parte


“Pescada de rabo na boca” de Pedro Vieira


Mantendo o rigor que estas reflexões exigem, considero adequado referir que todo este duríssimo empreendimento de reformar o Estado tem seguido o método científico característico da III República: a pescadinha. Munidos do talher de peixe, dissequemos a dita cuja. Cuidado que tem espinhas!

O PCP e o BE acusam o Bloco Central de utilizar o Estado para empregar boys e para promover a promiscuidade entre dinheiros públicos e privados. Todos sabemos que estes partidos da verdadeira esquerda se colocaram historicamente na vanguarda do proletariado e que contam nas suas fileiras com uma grande parte dos intelectuais portugueses. Além disso, passam a vida a tentar morder os calcanhares dos governos e para morder são precisos dentes. Representam por isso a cabeça do animal escamoso, o ponto onde a força das mandíbulas se alia à força da massa cinzenta. E qual é a solução dos inteligentes cabeçudos para resolver este saque descarado ao Orçamento da lusa pátria? O desenvolvimento de um Estado maior, mais poderoso, mais interventivo e mais fiscalizador.

O PS e o PSD aproveitam essa sugestão, criam uns organismos adicionais para intervir e fiscalizar e, naturalmente, arranjam umas pessoas para lá trabalharem. No início pensam em recrutar opositores para esses cargos mas entretanto o despertador toca, acordam, e resolvem recrutar apoiantes que conheçam. É uma característica deveras estranha esta de gostarmos de nos rodear de pessoas de confiança e não de inimigos de estimação. É mesmo surpreendente, vá-se lá perceber a cabeça do ser humano! Agora essas pessoas entretanto recrutadas já podem aproveitar para fazer uns negócios com os amigos e misturar o dinheiro público com o privado. Estes dois partidos do nosso centro político constituem o rabo do nosso peixe e, como é natural num rabo, estão sempre desejosos de se sentarem. Se é num conselho de administração de uma grande empresa pública ou numa mesa de reuniões de um grande banco privado, pouca diferença faz.

Com a criação destes novos organismos, o PCP e o BE já têm novas críticas para fazer aos mais recentes boys e aos negócios por eles desenvolvidos. Estão reunidas as condições para exigirem mais Estado para resolver o problema.
E o CDS, pergunta o atento leitor. O CDS varia, meu caro amigo. Se está na oposição, coloca-se à cabeça do peixe e morde os tachistas com vigor. Se está no Governo, coloca-se à cauda e senta-se nas confortáveis cadeiras do anafado Estado.

“Quem guardará os guardas?”, questionava com angústia Juvenal. “Mais guardas”, responde a nossa III República. “E assim sucessivamente”, completaria o saudoso João César Monteiro, antes de mandar meio mundo para o caralho.
Fica uma sugestão para matar a pescadinha: que a Troika se transforme em partido político e que em disputa com os nossos concorra às próximas eleições legislativas. Resolve-se o problema democrático e quando se contarem as cruzinhas talvez se descubra que não são essas três organizações estrangeiras que o povo português anseia desesperadamente enxotar daqui para fora.   

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