quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Salário Mínimo



Num inesperado movimento contraditório, um ano depois de ter caracterizado a medida como demagógica, Pedro Passos Coelho mostra agora abertura para aumentar o salário mínimo nacional. A satisfação que sinto com esta notícia prende-se essencialmente com dois motivos. Em primeiro lugar contribui para a humanização da Política e de todos os seus agentes. Habituados ao firme rigor e coerência da classe dirigente, os portugueses habituaram-se a ver os políticos como um grupo isolado, afastado e de diferentes características. Um grupo que é formado por “eles” e que se opõe ao grupo que é formado por “nós”. Ao mostrar que também é vulnerável ao erro, à contradição e à duplicidade da palavra dada, o Primeiro-Ministro mostra que os governantes são humanos e igualmente susceptíveis aos defeitos da portugalidade. São boas notícias para a democracia representativa.

Por outro lado, o aumento do salário mínimo na conjuntura actual parece-me uma excelente medida que só peca por tardia. Estando Portugal com uma taxa de desemprego de 16%, um número bastante difícil de decorar, não se compreendia que o Governo não estivesse a fazer todos os possíveis para tentar aumentá-la para 20%, um número redondo e de fácil memorização.
Ainda por cima, como muito bem diz Nicolau Santos no Expresso, patrões que não conseguem pagar um salário mínimo de 500 euros deviam ter vergonha. E, acrescento eu, melhor seria que fechassem de vez as portas das suas empresas, uma vez que Portugal não precisa delas para nada. A D. Alice, costureira com a 4ª classe nas Confecções Arnaldo Bracarense Lda., dispensa bem o empreendedorismo de vão de escada do Sr. Arnaldo. Se ele tiver de fechar a porta por causa do aumento do salário mínimo, ela pode ir trabalhar como investigadora no Laboratório Ibérico de Nanotecnologia. Que por acaso também fica em Braga. Não há qualquer razão para o país se sujeitar aos caprichos e à ignorância saloia deste tipo de empresários.
E quem é que pensa que é o Sr. Bernardino, de Sernancelhe, para se atrever a dizer que preferia trabalhar por 400 euros na única fábrica do Concelho, a estar em casa sem ganhar nenhum? Cuidará ele que lá por estar desempregado e ter já perdido todos os apoios sociais tem direito à liberdade de escolha?
Pobre Sr. Bernardino, não fossem as sábias cabeças das nossas elites, e arriscava-se a uma vida inteira de miséria e de exploração.  



PS - não posso deixar de referir a desilusão que senti quando ouvi as palavras do Bloco de Esquerda, exigindo um aumento do SMN para os 545 euros. Caro João Semedo, isto é valor que se apresente?! Gostava de saber se o senhor deputado conseguia viver dignamente com 545 euros mensais. Tenho quase a certeza que não. É por esta desvalorização permanente do valor do trabalho que Portugal não consegue alcançar a prosperidade que merece. Shame on you!


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