quarta-feira, 11 de março de 2015

Uma praga para proteger a praga


Panos Kammenos, ministro do Governo da Grécia, ameaçou os líderes europeus com uma onda de milhões de migrantes gregos caso a Europa não ceda durante as próximas negociações com Atenas. É uma espécie de reposição das maldades bíblicas que Moisés fez ao faraó egípcio para proteger o seu bondoso povo, só que, em vez de rãs e gafanhotos, a praga invocada pelo protector Kammenos é formada pelo próprio povo bondoso que diz querer proteger. Tentando explicar este paradoxo com uma anedota do Joãozinho (a forma mais fácil de explicar qualquer coisa a qualquer português), seria como se o pai do Joãozinho dissesse à professora do Joãozinho: "ou deixa de escrever na avaliação do meu filho que ele é insuportável ou eu deixo-o em sua casa durante um mês que é para a senhora aprender.”

Este é só mais um caso que mostra que a ideia que o novo Governo grego tem sobre o povo que governa é surpreendentemente parecida com as generalizações abusivas e insultuosas feitas por estrangeiros carregados de preconceitos e por jornalistas-escritores com orelhas grandes e que piscam o olho no final do noticiário. Senão, vejamos: José Rodrigues dos Santos informou-nos, na RTP e a partir de Atenas, que a fuga aos impostos era uma modalidade muito apreciada por aqueles lados; logo lhe caíram em cima todos os membros da Associação de Amizade Portugal-Grécia. Passadas umas semanas o ministro Varoufakis propõe o recutamento de milhares de inspectores à paisana para tentar combater uma “cultura da fuga aos impostos que está muito enraizada na sociedade grega”; logo a Associação de Amizade Portugal-Grécia propõe que a estátua a erguer ao responsável pelas finanças helénicas passe dos anteriormente projectados 10 metros para a mesma altura do Cristo Rei de Almada. Fica a ideia de que as generalizações sobre os gregos apenas podem ser proferidas por homens sem gravata. E digo isto, evidentemente, sem querer generalizar.

Sem comentários:

Enviar um comentário